O vento sopra forte nesta tarde de Outubro. Leva consigo as folhas que vão caindo das árvores da avenida e as que se amontoam no chão. O sol começa a espreitar tímido por entre as nuvens negras que cobrem o céu. Estas são fruto da tempestade que se fez sentir durante a maior parte do dia. Num parque ao fundo a vida parece decorrer em câmara lenta contrastando com o corrupio de transeuntes e viaturas. As crianças desafiam a gravidade nos seus baloiços indo o mais alto que lhes é permitido. Num banco mais afastado uma senhora de longos cabelos dourados concentra-se na leitura de um livro.
Um homem segue por entre as pessoas tentando abrir caminho para chegar à velha loja de antiguidades que lhe fora altamente recomendada. Prepara-se para abrir a porta de madeira envidraçada e é então que nota no reflexo o pequeno oásis verde. Um calafrio percorre-lhe o corpo e é impelido a virar-se. Vê-a. “É ela. Impossível. Mas será que…” Desiste de entrar na loja e segue por uma vez na vida o que o coração lhe diz.
- Mãe, mãe! Partiu. – grita um menino enquanto corre com um carrinho nas mãos.
A senhora de cabelos dourados levanta o olhar do seu livro e dirige-se ternamente à criança:
- Não te preocupes querido, arranjamos quando chegarmos a casa. – diz com um sorriso doce nos lábios.
Vê alguém aproximar-se e o sorriso vai desaparecendo e dando lugar a um misto de sentimentos. Choque, aflição, amor e saudade enredam-se numa teia complexa e incapaz de se desfazer. O que fazer? Fugir não é uma opção, está cansada de fugir. Ele ia descobrir, não adianta adiar o inevitável. Intrigas e desconfianças colocaram-nos nesta situação, agora só dependia dela provar a sua inocência.
O homem já se encontra quase a chegar ao seu destino. “Ela está mesmo aqui, tão perto… Tão perto que consigo sentir a adorável fragrância que emana. É agora.” Apercebe-se da presença do menino. Uma estranha sensação apodera-se dele. É como se estivesse em frente a um espelho. Os mesmos olhos, o mesmo cabelo, o mesmo sorriso travesso… Desvia o olhar para a mulher. Os olhos encontram-se travando uma batalha muda que passa imperceptível ao resto do mundo. Um sussurro abandona a boca dela:
-Pedro…
Final aberto. Como gostariam que acabasse?
Bom fim de semana :)
Sem comentários:
Enviar um comentário